O Barquinho Cultural

O Barquinho Cultural
Agora, o Blog por Bloga e O Barquinho Cultural são parceiros. Compartilhamento de conteúdos, colaboração mútua, dicas e trocas de figurinhas serão as vantagens dessa sintonia. Ganham todos: criadores, leitores/ouvintes, nós e vocês. É só clicar no barquinho aí em cima que te levamos para uma viagem para o mundo cultural

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Morre aos 82 anos o artista Jards Macalé

Morreu nesta segunda-feira (17/11/25), aos 82 anos, o ator, músico e compositor Jards Macalé. Ele estava internado em um hospital particular na Barra da Tijuca, zona sudoeste do Rio de Janeiro, onde tratava um enfisema pulmonar. Ele sofreu uma parada cardíaca, após passar por cirurgia.


A morte foi anunciada nas redes sociais do artista. "Jards Macalé nos deixou hoje. Chegou a acordar de uma cirurgia cantando 'Meu Nome é Gal', com toda a energia e bom humor que sempre teve", diz a publicação.


Biografia

Jards Anet da Silva, nasceu no bairro da Tijuca, zona norte do Rio, em 3 de março de 1943, nas proximidades do morro da Formiga. Iniciou sua trajetória cultural, na década de 1960.

Foi cantor, músico, compositor e ator. Cresceu rodeado de música: no morro, os batuques do samba, na casa ao lado de onde morava, os cantores Vicente Celestino e Gilda de Abreu.

Na residência dos pais, escutava os foxes, as valsas e as modinhas, tocadas ao piano pela mãe, Lígia, que também cantava e no acordeom, pelo pai.

O coro familiar tinha o irmão mais novo Roberto e o próprio Jards. No áureos tempos do rádio, ouvia a Rádio Nacional e os cantores de sucesso, como Silvio Caldas, Francisco Alves ('O Rei da Voz'), Cauby Peixoto, Orlando Silva, Marlene e Emilinha, que se apresentavam aos sábados no Programa César de Alencar.

Ainda jovem, se mudou com a família para o bairro de Ipanema, onde ganhou o apelido de Macalé, comparado ao pior jogador de futebol do Botafogo, que tinha esse apelido.

Na adolescência, formou seu primeiro grupo musical, o duo Dois no Balanço. Mais tarde veio o Conjunto Fantasia de Garoto, que tocava jazz, serenata e samba-canção.

Ele estudou piano e orquestração com o maestro Guerra Peixe, violoncelo com  Peter Daueslsberg, guitarra com Turíbio Santos e Jodacil Damasceno e análise musical com Esther Scliar.

Sua carreira profissional começou em 1965 como guitarrista do Grupo Opinião. Foi diretor musical das primeiras apresentações de Maria Bethânia. Teve composições gravadas por Elizete Cardoso e Nara Leão, entre outros.

Com Gal Costa, Paulinho da Viola e seu parceiro de composição José Carlos Capinam, criou a Agência Tropicarte, para gerenciar seus shows.

Participou como ator e compositor da trilha sonora dos filmes "Amuleto de Ogum" e "Tenda dos Milagres", de Nelson Pereira dos Santos.

Também compôs para as trilhas sonoras de "Macunaíma", de Joaquim Pedro de Andrade; "Antonio das Mortes", de Glauber Rocha; "A Rainha Diaba", de Antonio Carlos Fontoura, e "Se Segura, Malandro!", de Hugo Carvana.

Macalé é autor de músicas como "Vapor Barato", "Anjo Exterminado", "Mal Secreto", "Movimento dos Barcos", "Rua Real Grandeza", "Hotel das Estrelas" e "Poema da Rosa".

Entre os intérpretes de suas canções estão Gal Costa, Maria Bethânia, Clara Nunes, Camisa de Vênus e O Rappa, entre outros.

Em 2019, seu álbum "Besta Fera" foi indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum de MPB e considerado um dos 25 melhores álbuns brasileiros do primeiro semestre de 2019 pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).

A APCA também escolheu seu álbum "Coração Bifurcado" como um dos 50 melhores álbuns brasileiros de 2023 e a colaboração "Mascarada: Zé Kéti com o Sérgio Krakopwski", como um dos 50 melhores álbuns de 2024.

(Texto da Agência Brasil, com reportagem de Douglas Corrêa e edição de Denise Griesinger.

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Lô Borges...

MINHA VINILTECA

Nesta nova série, vou compartilhar minha pequena vinilteca. São apenas 123 títulos. Um nada diante de colecionadores possuidores de andares inteiros de discos. Mas é a MINHA coleção. Cada um desse vinis tem uma história, um afeto, um por quê. São 75 LPs de artistas brasileiros e 48 de fora do Brasil. Sobre cada um, vou contar coisas como quando e em que contexto os adquiri ou ganhei (se me lembrar e houver anotação), a ficha técnica (se não houver encarte, recorro à internet) e alguma curiosidade, de minhas memórias ou disponíveis em resenhas. Claro que a maiorias dessas informações qualquer IA pode lhe dar em segundos (faço uso de alguma, sim, quando não tiver outro meio de pesquisa), mas a minha emoção de quando escolhi o disco na loja, o coloquei no prato e depositei a agulha isso nenhum robô pode reproduzir. E é isso que quero lhes oferecer. As postagens seguem ordem alfabética. Intercalo LPs nacionais e internacionais.


Esta postagem homenageia Lô Borges 

Salomão Borges Filho, o Lô Borges, parceiro de Clube da Esquina de Milton "Bituca" Nascimento, morreu neste domingo, 02/11/2025, Dia de Finados, aos 73 anos, por "falência múltipla de órgãos", segundo o boletim médico divulgado pelo Hospital Unimed de Belo Horizonte, onde estava internado desde 18 de outubro, com um quadro de intoxicação por medicamentos.

Nesta postagem da série "Minha Vinilteca", fujo da regra que eu mesmo determinei, de intercalar LPs nacionais e internacionais, em ordem alfabética, avançando algumas letras para prestar minha homenagem sentida e dolorida a esse artista mineiro de imensa qualidade e sensibilidade. Falo aqui dos primeiros álbuns do compositor que adquiri: "A Via Láctea" e "Clube da Esquina", este com Milton Nascimento.

Este Blog já cobriu um festival em Três Pontas (MG), onde nasceu Wagner Tiso e cresceu Bituca, evento este que reuniu ainda Lô e uma galera muito da pesada. Acesse aqui.

A VIA LÁCTEA

A surpresa 

"A Via Láctea" foi lançado em 1979, sete anos depois do famoso "disco do tênis", que fora colocado no mercado no mesmo ano do "Clube da Esquina". Eu o ganhei em 20/12/1985, creio que como presente de amigo secreto do banco em que eu trabalhava. Dentro da embalagem (descobri somente hoje, 40 anos depois!), há um cartão de boas festas, assinado por Eliete. Peço mil desculpas, Eliete, não me lembro de você. Mas agradeço imensamente o presente. No disco há carimbo da loja São Bento Discos, de São Paulo.

À época, eu era admirador de Bituca, de quem comprava todas as fitas K7 que encontrava. Chegar a Lô foi um percurso natural, uma vez que nos discos de Milton o garoto estava sempre presente. Como era praxe para mim, eu sempre indicava nos amigos secretos o que queria ganhar, para não haver erros. Então devo ter recomendado a Eliete que me desse um disco do Lô. Assim que o pus para rodar, já me apaixonei. É o único LP individual de Lô que tenho.

Ficha técnica

O LP foi lançado pela EMI Odeon Fonográfica, com direção de produção de Mariozinho Rocha, e produção executiva de Milton Nascimento. Os técnicos de gravação são Roberto Castro, Mayrton Bahia e Dacy Rodrigues; a mixagem é de Franklin Garrido e Nivaldo Duarte, com corte de Osmar Furtado. A concepção da capa é de Kélio Rodrigues e Márcio Borges, com fotos de José Roberto e Henrique Leiner, com coordenação gráfica de Tadeu Valério e Kélio Rodrigues. A ficha traz ainda agradecimentos a seu Nonato pelo cafezinho.

Os músicos

Acompanham Lô Borges (que canta e toca guitarra, violão, piano e viola de 12) os músicos Paulinho Carvalho (baixo, guitarra e violão), Telo Borges (violão, piano, piano elétrico), Fernando Oly (viola de 12 cordas), Hely Rodrigues (bateria), Robertinho Silva (bateria e percussão, Aleuda Chaves (percussão), Cláudio Venturini (guitarra), Wagner Tiso (orquestração, regência, ARP Omni, piano, sintetizador, órgão, acordeon), Toninho Horta (orquestração, regência, piano, guitarra, percussão), Luiz Alves (baixo acústico), Copinha (Nicolino Cópia), Celso Woltzenlogel, Jorginho (Jorge Ferreira da Silva) e Jaime (flautas), Flávio Venturini (piano e sintetizador), Vermelho (José Geraldo de Castro Moreira, órgão e sintetizador).

Ainda acompanham Giancarlo, Vidal, Alves, Daltro, Eduardo, Murilo, Faini, Aizik, Lana, Paschoal, Walter e Piersantino (violino spalla), Penteado, Stephany, Macedo, Linderburgo (violas), Marcio, Alceu, Watson e Ana (cellos).

A mana Solange Borges divide os vocais em duas faixas e Rick, Alexandre e Bituca reforçam as palmas na vinheta que fecha o lado A.

As faixas do LP

Lado A

1) "Sempre Viva" (Lô e Márcio Borges)

2) "Ela" (Lô e Márcio Borges)

3) "A Via Láctea" (Lô e Ronaldo Bastos)

4) "Clube da Esquina Nº 2" (Lô, Milton Nascimento e Márcio Borges) - com Solange

5) "A Olho Nu" (Lô e Márcio Borges)

Lado B

1) "Equatorial" (Lô, Beto Guedes e Márcio Borges)

2) "Vento de Maio" (Telo e Márcio Borges) - com Solange

3) "Chuva na Montanha" (Fernando Oly)

4) "Tudo Que Você Podia Ser" (Lô e Márcio Borges)

5) "Olha O Bicho Livre" (Paulinho Carvalho e Rodrigo Leste)

6) "Nau Sem Rumo" (Lô e Márcio Borges)


CLUBE DA ESQUINA

O contexto da compra

Na época da compra desse LP duplo (um luxo para poucos em 1972), eu já tinha adquirido um respeitável conjunto CCE com toca-discos, duplo K7 e sintonizador AM/FM e passei então a comprar discos de vinil, em vez dos cassetes que ouvia no toca-fitas do carro de meu pai. Não sei se este foi o primeiro LP que comprei, mas foi certamente o primeiro de Bituca. Um clássico, em todos os sentidos.

A compra foi feita em 20/11/1987, no Jumbo Eletro de Santo André, e tem até uma etiqueta com o preço dentro da capa: 59000 (eu não sei se eram 590,00 cruzados, ou 59.000 cruzados!). Lembro que ficava horas olhando aquela capa interna dupla cheia de fotos, tentando descobrir quem eram as personagens lá. Dá pra identificar de cara Dori e Dorival Caymmi, Bituca, Lô Borges, Paulinho da Viola, Beto Guedes, Norma Bengel, Toninho Horta e Miles Davis. Os demais, só pesquisando.

Ficha técnica

O LP foi lançado em 1972 pela EMI Odeon. A edição que tenho é de 1985, e não traz encarte nem qualquer outra informação, além daquelas disponíveis nos selos (nome das músicas e compositores). Mas uma edição especial em CD de outubro de 2007, da Trama, produzida por João Marcelo Bôscoli, que tem também o "Clube da Esquina 2", de 1978, oferece as informações.

O disco foi gravado nos Estúdios EMI-Odeon do Rio de Janeiro em 1972. A produção é de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos. A direção de produção é de Milton Miranda, a direção musical, de Lindolfo Gaya, com supervisão de Bituca. Os orquestradores são Wagner Tiso e Eumir Deodato, com regência de Paulo Moura. O diretor técnico é Z. J. Merky. Os técnicos de gravação são Nivaldo Duarte, Jorge Teixeira e Zilmar Rodrigues. O técnico de laboratório é Reny |R. Lippi. A concepção da capa é de Cafi, com colaboração de Ronaldo Bastos. As fotos da capa, da contracapa e da nuvem são de Cafi e as internas de Cafi e Juvenal Pereira.

Os músicos

Como se sabe, o "Clube da Esquina" faz referência à turma que se reunia na confluência das ruas Divinópolis e Paraisópolis, em Belo Horizonte (MG), para tocar e trocar ideias. Aí, em meados de 1971, Bituca levou a galera para Niterói para compor e gravar o celebrado álbum homônimo duplo meses depois, à revelia dos protestos da gravadora, que achava um LP duplo absurdo. Mas Bituca bateu o pé, ameaçou trocar de firma e o disco saiu como ele quis. No estúdio, cada um tocava o que havia à disposição, e a ficha disponível dos músicos participantes é esta, com os instrumentos na ordem das faixas:

Milton Nascimento (voz, piano, violão) Lô Borges (voz, violão, guitarra, percussão, surdo, piano, bateria), Tavito (guitarra 12 cordas, guitarra 6 cordas, violão, percussão), Wagner Tiso (órgão, piano, piano elétrico), Beto Guedes (voz, baixo, guitarra 12 cordas, percussão, piano, carrilhão), Toninho Horta (guitarra, percussão, baixo, violão, voz), Robertinho Silva (bateria e percussão), Luiz Alves (caxixi, percussão, baixo com arco), Rubinho (tumbadora, bateria), Nelson Angelo (guitarra, percussão, surdo, piano), Paulinho Braga (percussão), Luiz Gonzaga Jr. (coro).   

As faixas dos LPs

Disco 1

Lado A

1) "Tudo Que Você Podia Ser" (Lô e Márcio Borges) - Voz: Bituca

2) "Cais" (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos) - Voz: Bituca

3) "O Trem Azul" (Lô Borges e Ronaldo Bastos) - Voz: Lô Borges

4) "Saídas e Bandeiras Nº 1" (Milton Nascimento e Fernando Brandt) - Voz: Bituca e Beto Guedes

5) "Nuvem Cigana" (Lô Borges e Ronaldo Bastos) - Voz: Bituca

6) "Cravo e Canela" (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos) - Vozes: Bituca e Lô

Lado B

1) "Dos Cruces" (Carmelo Larrea Carricarte) - Voz: Bituca

2) "Um Girassol da Cor do Seu Cabelo" (Lô e Márcio Borges) - Vozes: Lô e Beto Guedes

3) "San Vicente" (Milton Nascimento e Fernando Brandt) - Vozes: Bituca e Tavito

4) "Estrelas" (Lô e Márcio Borges) - Voz: Lô

5) "Clube da Esquina Nº 2" (Milton Nascimento, Lô e Márcio Borges) - Instrumental

Disco 2

Lado A

1) "Paisagem na Janela" (Lô Borges e Fernando Brandt) - Voz: Lô Borges

2) "Me Deixa em Paz" (Monsueto e Ayrton Amorim) - Voz: Alaíde Costa e Bituca

3) "Os Povos" (Milton Nascimento e Márcio Borges) - Voz: Bituca

4) "Saídas e Bandeiras Nº 2" (Milton Nascimento e Fernando Brandt) - Vozes: Bituca e Beto Guedes

5) "Um Gosto de Sol" (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos) - Voz: Bituca

Lado B

1) "Pelo Amor de Deus" (Milton Nascimento e Fernando Brandt) - Voz: Bituca

2) "Lilia" (Milton Nascimento) - Instrumental

3) "Trem de Doido" (Lô e Márcio Borges) - Voz: Lô Borges

4) "Nada Será Como Antes" (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos) - Vozes: Bituca e Beto Guedes

5) "Ao Que Vai Nascer" (Milton Nascimento e Fernando Brandt) - Voz: Bituca


Ouçam os discos no Spotfy:

  

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Minha vinilteca: Adoniran Barbosa & Convidados

 MINHA VINILTECA

Nesta nova série, vou compartilhar minha pequena vinilteca. São apenas 123 títulos. Um nada diante de colecionadores possuidores de andares inteiros de discos. Mas é a MINHA coleção. Cada um desse vinis tem uma história, um afeto, um por quê. São 75 LPs de artistas brasileiros e 48 de fora do Brasil. Sobre cada um, vou contar coisas como quando e em que contexto os adquiri ou ganhei (se me lembrar e houver anotação), a ficha técnica (se não houver encarte, recorro à internet) e alguma curiosidade, de minhas memórias ou disponíveis em resenhas. Claro que a maiorias dessas informações qualquer IA pode lhe dar em segundos (faço uso de alguma, sim, quando não tiver outro meio de pesquisa), mas a minha emoção de quando escolhi o disco na loja, o coloquei no prato e depositei a agulha isso nenhum robô pode reproduzir. E é isso que quero lhes oferecer. As postagens seguem ordem alfabética. Intercalo LPs nacionais e internacionais.


Por que comprei este disco

Em 1981, eu participei de um grupo de teatro amador na paróquia de meu bairro, Vila Palmares, em Santo André. Nós montamos a peça "A Invasão", de Dias Gomes, escrita 20 anos antes. O texto trata de famílias expulsas de seus barracos em uma favela por causa de uma enchente que ocupam um hospital inacabado para ter um teto.

Ali, são submetidos à exploração de um malandro que cobra deles para manter a polícia longe; ao oportunismo de um deputado que os ludibria em busca de votos e popularidade; à fome, falta de emprego, humilhações de toda sorte. Para resumir, no texto original, os sem-teto se organizam e expulsam todos os exploradores do prédio, tomando posse definitiva.

O final de Dias Gomes, um autor de esquerda, trazia a mensagem de que era possível o poder popular por meio da organização, da luta, da solidariedade. Mas a peça foi escrita em  1962... Veio 1964 e achamos - nós do Grupo Tupi - que esse final não condizia com a realidade. E, no nosso desfecho, a polícia sentava o pau e todos eram expulsos do edifício.

Esse final precisava de uma música apropriada. E "Despejo na Favela", indicação de nosso orientador, Tim Urbinati, do Grupo Forja, veio a calhar.

Essa história já foi contada em termos mais resumidos aqui neste blog. Acesse clicando aqui.

O momento de compra

Encontrei este LP, "Adoniran Barbosa & Convidados", não me lembro em que loja, e o comprei em 20 de agosto de 1981. O disco foi produzido por Mariozinho Rocha, gravado nos estúdios da EMI-Odeon em maio de 1980, para comemorar os 70 anos de Adoniran, nascido João Rubinato em 6 de agosto de 1910.

A faixa "Despejo na Favela", de Adoniran, tem o acompanhamento de Gonzaguinha (Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, 1945/1991) e versos que casavam esplendidamente com nossa montagem:

"Quando o oficial de justiça chegou

Lá na favela e, contra seu desejo

Entregou pra seu Narciso

Um aviso, uma ordem de despejo


Assinada, seu doutor

Assim dizia a petição

Dentro de dez dias quero a favela vazia

E os barracos todos no chão


É uma ordem superior

Oh, oh, oh, oh, meu senhor

É uma ordem superior

Oh, oh, oh, oh, meu senhor

É uma ordem superior


Não tem nada, não, seu doutor, não tem nada, não

Amanhã mesmo vou deixar meu barracão

Não tem nada, não, seu doutor

Vou sair daqui pra não ouvir o ronco do trator


Pra mim não tem problema

Em qualquer canto me arrumo

De qualquer jeito me ajeito

Depois o que eu tenho é tão pouco


Minha mudança é tão pequena

Que cabe no bolso de trás

Mas essa gente aí, hein, como é que faz?

Mas essa gente aí, hein, como é que faz?


Oh, oh, oh, oh, meu senhor

Essa gente aí como é que faz?

Oh, oh, oh, oh, meu senhor

Essa gente aí como é que faz?


Oh, oh, oh, oh, meu senhor

Essa gente aí.."


Os detalhes técnicos

O LP tem produção executiva de Fernando Faro (1927/2016), que assina um belo texto no encarte, com fotos de brinquedos construídos pelo compositor. O encarte traz ainda uma ilustração do gigante Elifas Andreato:


"E ali do lado, cigarro na boca, ele trabalha.

Como vem fazendo durante boa parte desses 70 anos de vida.

Buscando fundo na memória, ouvindo de vez em quando os amigos, e percorrendo ruas e bares, ele vai refazendo pedaço a pedaço, sem muita ordem, utilizando o metal, a madeira, os fios, e tambám a palavra e o samba, a humana e muito doce paisagem dessa cidade - uma cidade que muda a cada minuto, e se deforma e se reforma, e se transfigura. É São Paulo que ele constrói. Ou reconstrói."



A direção de produção é de Mariozinho Rocha, com arranjos e regência do Maestro José Briamonte. Foram técnicos de gravação Guilherme Reis e Dacy; mixagens Franklin e Nivaldo Duarte; corte Osmar Furtado; capa de Elifas Andreato; fotos de Alexandre Sarda; arte final de Alexandre Huzak; coordenação gráfica Tadeu Valério e revisão gráfica Hagnea Mazetto. O produtor fonográfico é EMI-Odeon Fonográfica, Industrial e Eletrônica S.A.


As participações especiais e músicos convidados

Os Amigos que o acompanham nessa belíssima homenagem são Clementina de Jesus, Clara Nunes, Carlinhos Vergueiro, Djavan, Elis Regina, Luiz Gonzaga Jr., MPB4, Conjunto Nosso Samba, Roberto Ribeiro, Talismã e Seu Conjunto e Vania Carvalho.

Os músicos são Dino Sete Cordas (violão 7 cordas), Cesar Faria (violão 6 cordas), Carlinhos Antunes (cavaquinho), Marçal Filho, Nilton Marçal, Elizeu Félix, Luna, Jorginho e Geraldo (ritmo), Netinho e José Nogueira (saxofone), Nelsinho (trombone), Maurílio (piston), Jorginho (flauta), As Gatas e Cristina Buarque (coro).

As faixas do LP


As faixas, todas com arranjo de José Briamonte. Composições de Adoniran Barbosa (exceto as indicadas)

Lado A

1) "Fica Mais Um Pouco Amor"

2) "Tiro ao Álvaro" (Adoniran e Oswaldo Molles), com Elis Regina

3) "Bom Dia, Tristeza" (Adoniran e Vinícius de Moraes), com Roberto Ribeiro

4) "O Casamento do Moacir" (Molles e Adoniran), com Talismã e Seu Conjunto

5) "Viaduto Santa Efigênia" (Adoniran e Alocin), com Carlinhos Vergueiro

6) "Aguenta a Mão, João" (Adoniran e Hervé Cordovil), com Djavan

7) "Acende o Candieiro", com Nosso Samba

Lado B

1) "Apaga o Fogo, Mané"

2) "Prova de Carinho" (Adoniran e Cordovil), com Vania Carvalho

3) "Vila Esperança" (Adoniran e Marcos Cesar), com MPB4

4) "Iracema", com Clara Nunes

5) "No Morro do Piolho" (Peteleco, Jacob de Brito e Carlos Silva)

6) "Despejo na Favela", com Gonzaguinha

7) "Torresmo à Milanesa" (Adoniran e Carlinhos Vergueiro), com Clementina de Jesus e Carlinhos Vergueiro

E você? Já conhece esse LP? Deixe nos comentários sua faixa favorita ou uma memória com Adoniran.

Ouça no Spotfy:

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Morre Claudia Cardinale, uma da últimas divas italianas


A atriz Claudia Cardinale morreu nesta terça-feira (23/09/2025), aos 87 anos, perto de Paris. Nascida em 1938 na Tunísia, de família italiana, sua primeira língua foi o francês. Ela entrou para o cinema após vencer, aos 17 anos, um concurso de beleza em Túnis, mesmo sem interesse inicial em atuar.

Sua carreira deslanchou no fim dos anos 1950 e 1960, quando estrelou alguns dos filmes mais importantes do cinema europeu, entre eles "Oito e Meio" (Fellini), "O Leopardo" (Visconti) e "Era uma Vez no Oeste" (Leone). Também participou de produções internacionais como "A Pantera Cor-de-Rosa", de Blake Edwards (1963).

Aos 22 anos, filmou "Rocco e Seus Irmãos" (1960) com Luchino Visconti, que um ano depois lhe deu um de seus papéis mais emblemáticos, o de Angelica em "O Leopardo", ao lado de Alain Delon e Burt Lancaster, em 1963.

Frequentemente comparada a Brigitte Bardot, a morena “CC” e a loira “BB” trabalharam juntas em um filme, "As Petroleiras" (1971).

Em entrevistas, Cardinale contou que sua entrada no cinema foi motivada pela necessidade de sustentar o filho, Patrick, fruto de uma gravidez precoce em circunstâncias difíceis (estupro).

Ao longo de mais de 60 anos de carreira, trabalhou em mais de cem filmes e recebeu prêmios e homenagens, incluindo o Leão de Ouro honorário do Festival de Veneza em 2002.

Claudia Cardinale é lembrada como uma das grandes atrizes do cinema europeu do século 20, reconhecida por sua contribuição à história do cinema.

“Era bela, simples, sem história, mas quando a câmera gravava, ela se iluminava com um sorriso e um olhar carinhoso que destacava sua voz rouca. Os grandes a magnificaram, ela os serviu e nós, nós amávamos ternamente essa pessoa delicada”, comentou à AFP Gilles Jacob, ex-presidente do Festival de Cannes.

(Fontes: EW, Carta Capital)




domingo, 14 de setembro de 2025

Tenório Jr. volta...

Foto: Amberes Revista Cultural

Durante quase 50 anos a família do músico Tenório Jr. deve ter sofrido muito ao ouvir essa canção de Lupicínio Rodrigues, na voz de Gal Costa, do disco "Índia", de 1973, no qual
ele a acompanha ao órgão. Conforme reportagem de Eduardo Reina e Vitor Nuzzi no "Estadão" deste sábado, 12/09/25, foi identificado seu corpo, desaparecido desde março de 1976 durante uma turnê com Vinícius e Toquinho em Buenos Aires.

Morto com 5 tiros, provavelmente confundido com algum inimigo do regime militar que se instalaria no país dias depois, a Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF) finalmente o identificou. Ele havia sido sepultado com não identificado em um cemitério local.

Francisco Tenório Cerqueira Júnior, conhecido como Tenório Júnior, nasceu em 4 de julho de 1941 no Rio de Janeiro e cresceu no bairro de Laranjeiras. Pianista talentoso, destacou-se no gênero samba-jazz, estilo de música instrumental brasileira dos anos 1960. Admirador de Bill Evans e Horace Silver, era presença constante nos clubes do Beco das Garrafas, em Copacabana.

Seu único álbum como líder foi "Embalo" (RGE, 1964), gravado enquanto cursava Medicina, com participações de grandes nomes como Paulo Moura, Raul de Souza, Milton Banana e Rubens Bassini. O disco inclui faixas marcantes como "Nebulosa", "Samadhi" - ambas dele - e "Consolação" (Baden Powell e Vinícius de Moraes), revelando seu talento precoce aos 23 anos.

Tenório também colaborou em álbuns de artistas como Edison Machado ('É samba novo'), Wanda Sá ('Vagamante'), além de ter seu nome presente em gravações de Milton Nascimento, Edu Lobo, entre outros.

A esposa, Carmen Cerqueira Magalhães, e dois de seus cinco filhos não estão mais aqui para receber a notícia.

Volta (Lupicínio Rodrigues)
Quantas noites não durmo
A rolar-me na cama
A sentir tantas coisas
Que a gente não pode explicar quando ama

O calor das cobertas
Não me aquece direito
Não há nada no mundo
Que possa afastar esse frio do meu peito

Volta
Vem viver outra vez ao meu lado
Não consigo dormir sem teu braço
Pois meu corpo está acostumado

sábado, 13 de setembro de 2025

Os muitos Hermetos Pascoais

Foto: Mônica Imbuzeiro / Agência O Globo


Inconformado que Hermeto Pascoal tenha morrido! Estava programado o alarme para comprar o ingresso para a próxima apresentação dele no Sesc... Do disco em homenagem à sua companheira, Ilza, show este que perdi as outras datas por razões diversas. Hermeto morreu neste sábado, 13/09/25, aos 89 anos, no Rio de Janeiro.

Eu o vi no palco há muitos anos, num circo no Anhembi, ou sei lá onde... faz tempo. O que não esqueci é que o show acabou e ele convidou a plateia a sair da tenda e continuar o show na calçada, na rua. Inspirado em sua incrível habilidade em extrair sons de qualquer objeto, comecei a batucar o sabugo da espiga de milho cozido recém debuvorada.

Nunca me esqueço de sua apresentação no Festival Abertura, da TV Globo, em 1975, tocando "O Porco na Festa", laureada como melhor arranjo no certame.

Em 1983, comprei meu primeiro LP dele, "Hermeto Pascoal & Grupo", pela Editora e Produtora Fonográfica Som da Gente, no qual o time é para deixar qualquer Ancelotti babando: Heraldo do Monte, Carlos Malta, Jovino Santos, Itiberê Zwarg, Márcio Bahia, Pernambuco...

"O músico é um cara mágico, com energia diferente, que se comunica com as pessoas através da música. Quando ele consegue passar essa energia, e da mesma forma receber, ele consegue o maior êxito." Está escrito lá na contracapa do disco. Não sei se foi Hermeto quem escreveu, mas é algo que entendo que ele sentia.

Mais recentemente, comprei o CD "Zabumbê-bum-á", disco de 1979 relançado pela Livraria Cultura, em 2011, sob licença da Warner. No disco, Hermeto é acompanhado por Nenê, Itiberê, Zabelê, Cacau, Jovino, Pernambuco, seu pai, Pascoal José da Costa, e sua mãe, Divina Eulália de Oliveira, além de Antonio Celso, Alexandre, Marcelo, Paulo, Cecília e Ruy.

1979 foi também o ano em que Hermeto recebeu o título de "um dos maiores músicos do mundo ", durante sua apresentação no Festival de Jazz de Montreux, Suíça. Apresentação esta em que toca com Elis Regina três músicas ("Asa branca", "Corcovado" e "Garota de Ipanema") em que o público vem abaixo...

Hermeto era múltiplo. Não porque tocava múltiplos intrumentos e não-instrumentos. Ou porque transitava em quaisquer vertentes musicais. Era múltiplo porque não tinha fronteiras, nem amarras, nem arreios. Era livre, e por ser livre não cabia em nenhuma classificação, em nenhum escaninho. Em nenhum padrão. Era Hermeto!

Não vai dar para vê-lo no Sesc nem agora, nem nunca mais.

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Só nos resta... Angela RoRo


Foto: Bob Wolfenson

A cantora, compositora e pianista Angela RoRo morreu nesta segunda-feira, 8 de setembro de 2025, aos 75 anos.

Há poucos dias, vi uma postagem dela numa rede social, pedindo doações para seu tratamento. Diz o noticiário que ele teve uma infecção pulmonar e seu apelo é porque não dispunha de recursos para se tratar.

Não sei o quanto isso é verdade. O que sei é que uma artista de sua importância e talento não deveria passar necessidade. Será que nenhum dos seus admiradores poderia fazer algo?

RoRo apareceu pela primeira vez tocando gaita em uma das faixas do álbum "Transa", de Caetano Veloso, lançado em 1972, quando de seu exílio em Londres. A música é "Nostalgia (That's What Rock'n Roll Is All About)".

Caetano compôs para ela "Escândalo", que dá título a seu terceiro álbum, de 1981. Mas seu primeiro LP, homônimo, veio à luz dois anos antes, com 12 composições de sua autoria.

A que ganhou repercussão foi "Amor, Meu Grande Amor", dela e Ana Terra, que está na trilha da novela da Globo "Água Viva", de Gilberto Braga, e "Caminho das Índias", de Glória Perez, mas é um disco repleto de ótimas canções, como "Cheirando A Amor", "Tola Foi Você", "Balada da Arrasada", "Abre o Coração".

Aliás, não faltaram canções em sua voz a entrarem em trilhas de novelas da TV Globo... Busque saber.

Ano seguinte, vem com "Só Nos Resta Viver". O LP tem sua interpretação visceral para "Bárbara", de Chico Buarque e Ruy Guerra, da peça "Calabar - O Elogio da Traição", e "Fica Comigo Esta Noite", de Adelino Moreira e Nelson Gonçalves, ambas acompanhadas ao bandoneón por Ubirajara Silva.

O LP tem ainda duas faixas que são sua própria essência (além das composições que falam de amores vêm, amores vão): "Meu Mal é a Birita" e "Tango da Bronquite" (também com o bandoneón de Bira, claro).

O disco de 1981, "Escândalo", traz também "Tão Beata, Tão à Toa", de Guto Graça Mello e Naila Skorpio, que, em versão roqueira de Marina Lima, entrou no tema de abertura da novela "Corpo a Corpo", de Gilberto Braga, na Globo. "Vou Lá No Fundo", de Naila Skorpio e Sônia Burnier, é outra de minhas lembranças da artista.

"Simples Carinho", de 1982, abre com a faixa-título, composta pelos mestres Abel Silva e João Donato. Tem ainda uma de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, "Demais" -que parece ter feito sob medida para ela (Todos acham que eu falo demais / E que eu ando bebendo demais / Que essa vida agitada / Não serve pra nada / Andar por aí / Bar em bar, bar em bar...). Vai que, né?

Em "A Vida é Mesmo... Assim", de 1984, ela aparece cândida na capa, com um véu rosa, e apresenta "Fogueira", baita canção que ganhara antes interpretação igualmente intensa de Maria Bethânia em seu álbum "Ciclo", de 1983.

"Eu Desatino" é seu trabalho de 1985, que teve a primeira faixa, "Blue Janis", proibida à execução pública (talvez por se referir à heroína ou à liberdade sexual em seus versos cortantes).

"Prova de Amor", de 1988, traz composições de Bernardo Vilhena e Lobão ('Sempre Uma Dose A Mais'), Tavinho Paes e Arnaldo Brandão ('How Green Was Your Monkey') e outras dez dela - duas em parceria, "Viciado em Regras", com Aleph D. Clic, e "Funk do Negão", com Ari Mendes.

Em 2000, lança "Acertei no Milênio", uma brincadeira com "Acertei no Milhar", samba de Wilson Baptista e Geraldo Pereira gravado em 1940 por Moreira da Silva. Neste CD grava dois standards norte-americanos, "All Of Me", de Seymour Simons e Gerald Marks, e "Don't Let Me Be Misundertood", de Bennie Benjamin, Horace Ott e Sol Marcus. Neste disco RoRo dá sua interpretação para "Gota D'Água", de Chico Buarque.

Em 2006 lança "Compasso", cuja canção título, dela e de Ricardo Mac Cord, é quase um epitáfio: "Vou carregar de tudo vida afora / Marcas de amor, de luto e espora / Deixo alegria e dor / Ao ir embora".

"Selvagem", de 2017, foi seu último disco com canções inéditas, gravado em casa, na realidade no lar de seu tecladista e parceiro Mac Cord. O disco traz repertório variado, que vai do baião ('Parte Com o Capeta'), ao constante blues ('Portal do Amor'), passando pelo samba ('De Todas as Cores' e 'Maria da Penha').

Entre esses últimos, ela lançou dois álbuns com canções consagradas, "Angela RoRo Ao Vivo", de 2006, e "Feliz da Vida"", em 2013. Houve ainda o primeiro ao vivo, "Nosso Amor Ao Armagedon", de 1993, vários singles e compilações.

Vida

Nascida Angela Maria Diniz Gonçalves em 5 de dezembro de 1949, no Rio de Janeiro, ela foi uma das maiores vozes da música brasileira, conhecida por sua voz rouca, letras confessionais e uma presença de palco única.

O interesse pela música começou cedo. Aos 5 anos, já estudava piano clássico e, um ano depois, compunha em seu acordeão. O apelido "RoRo" surgiu na adolescência, por causa da sua voz grave e rouca, uma marca registrada que a acompanharia por toda a carreira.

No início dos anos 1970, Angela RoRo se mudou para Londres, onde trabalhou como faxineira, garçonete e lavadora de pratos. Paralelamente, ela se apresentava em pubs, tocando piano e cantando. Foi nesse período que teve contato com o cineasta Glauber Rocha, que estava em exílio, e chegou a ser convidada pelo empresário Malcolm McLaren (futuro mentor dos Sex Pistols) para gravar um álbum de blues, projeto que não se concretizou.

Ao retornar ao Brasil, Angela RoRo se firmou como uma das figuras mais originais da MPB. Sua autenticidade e a forma como falava abertamente sobre sua sexualidade a tornaram um ícone, especialmente na comunidade LGBTQIAPN+.

Ao longo de sua carreira, Angela RoRo lançou diversos álbuns e teve suas músicas gravadas por grandes nomes da música brasileira, como Maria Bethânia, Ney Matogrosso e Marina Lima. Uma curiosidade é que a famosa canção "Malandragem", composta por Cazuza, foi oferecida a ela, mas RoRo recusou-se a gravá-la por não gostar da letra, e a música acabou sendo imortalizada na voz de Cássia Eller anos depois.

RoRo, que foi eleita pela revista "Rolling Stone" como a 33ª maior voz da música brasileira, continuou ativa até seus últimos anos, se apresentando em shows e participando de programas de TV, sempre com sua personalidade forte e seu talento inquestionável. Ela deixou um legado de coragem, talento e autenticidade. (Fontes: Discos do Brasil, Discogs, O Globo, G1, Biscoito Fino e Gemini)


terça-feira, 2 de setembro de 2025

Scrut celebra 50 anos de álbum Zappiano icônico

Foto e vídeo:Carlos Mercuri


O mês de agosto de 2025 terminou com a celebração de um dos discos mais fodásticos da discografia Zappiana - e, por que não dizer, do rock-pop-jazz mundial: "One Size Fits All". E a homenagem não poderia partir de uma galera mais que qualificada: a Central Scrutinizer Band!

A banda paulistana também tem efeméride a comemorar: em julho, completaram 35 anos de existência, entre formações diversas, mas com o núcleo-base ainda na ativa: Mano Bap (guitarra e voz), Cadu Bap (sax alto e voz), Hugo Hori (sax tenor, soprano, flauta e voz), Eron Guarnieri (teclados e voz), Ricardo Bologna (percussão), Caio Góes (baixo) e Claudio Tchernev (bateria).

A banda levou à Cervejaria Tarantino, na zona norte (pertinho de casa), a íntegra do álbum do Frank Zappa & The Mothers of Invention lançado em junho de 1975 que, simplesmente, redefine a obra dos artistas e marca em mármore o nome da banda no pedestal dos grandes da cultura pop mundial.

Não digo que "One Size Fits All" seja meu álbum preferido do Zappa... Eu ouvi TODOS seus 58 LPs oficiais - de "Freak Out (1966) a Yellow Shark (1993) - e este, se não é meu preferido, pelo menos é o que ouço com mais frequência.

Por quê? Não sei... Há uma pulsação nele que me remete a uma camada primitiva de meu ser, algo incompreensível, mais intuitivo, sensorial que intelectual, racional...

A banda Central Scrutinizer, da qual vários de seus integrantes militaram em outras paragens, tipo Karnak e Funk Como Le Gusta, é considerada - até pelo próprio Zappa - uma das melhores a celebrarem o repertório do gênio de Baltimore.

Esta apresentação mostrou o tamanho deles e da obra que resolveram homenagear. "One Size Fits All" é um disco que foi sendo melhor compreendido com o tempo. Em seu lançamento, 50 anos atrás, a imprensa especializada não foi unânime: o álbum foi recebido com certa cautela por alguns críticos.

Com o tempo, a crítica - e os ouvintes - foram percebendo o quanto de inovador e revolucionário o trabalho é. E os conceitos se foram apurando. Até que hoje é inegável se tratar de uma obra-prima.

O disco é visto hoje como o ápice da fase "jazz-fusion" de Zappa e de sua colaboração com a segunda formação da banda The Mothers of Invention, que muitos fãs consideram a mais icônica. A virtuosidade dos músicos, especialmente de George Duke (teclados), Ruth Underwood (vibrafone e marimba) e Chester Thompson (bateria), é um dos pontos mais elogiados.

"One Size Fits All" também é notável por ser o primeiro álbum de Zappa a ser gravado inteiramente em uma mesa de 24 canais, o que permitiu uma qualidade de som e uma densidade de arranjos sem precedentes em sua discografia até então.

Mas não é preciso entender dessas minúcias técnicas ou estilísticas para apreciar esses quase 44 minutos de puro deleite. Os quais a banda CS reproduz com maestria e uma dose correta de improviso e releitura.

Que 2026 os traga firmes para repetir a dose nos 60 anos de estreia de Zappa & Mothers reproduzindo o igualmente seminal "Freak Out".

Music is the best!



sábado, 30 de agosto de 2025

Luis Fernando Verissimo...

Foto: Alice Vergueiro/Abraji


O escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo, de 88 anos, morreu na madrugada deste sábado (30/08/25) após complicações causadas por um caso grave de pneumonia. Ele estava internado desde o dia 11 de agosto em uma unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Seu corpo foi velado na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.  


Verissimo deixa a esposa, Lúcia Helena Massa, e três filhos: Pedro, Fernanda e Mariana Verissimo. Ele tinha mal de Parkinson, problemas cardíacos e sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) em 2021. Um ano depois, recebeu um marca-passo no coração.


Filho do escritor Érico Verissimo, Luis Fernando nasceu em Porto Alegre e passou parte da infância e da adolescência nos Estados Unidos. De volta ao Brasil, atuou em publicidade, antes entrar para o jornalismo. Em "Zero Hora", sua coluna se consolidou como referência. Também foi colunista dos jornais "O Estado de S. Paulo" e "O Globo".


Publicou mais de 80 títulos, entre eles "As Mentiras que os Homens Contam", "O Popular: Crônicas ou Coisa Parecida", "A Grande Mulher Nua" e "Ed Mort e Outras Histórias".


Foram as crônicas e os contos que o tornaram um dos escritores contemporâneos mais populares no país. O "Analista de Bagé", lançado em 1981, teve a primeira edição esgotada em uma semana.


O escritor construiu uma trajetória profissional rica, com atuação em diferentes áreas e produção em vários formatos. Trabalhou como cartunista, tradutor, roteirista, publicitário, revisor, dramaturgo e romancista. Sua obra é marcada pelo bom humor, assertividade e crítica. Além das palavras, foi um amante da música, dedicado à prática do saxofone.


Em entrevista ao programa "Sem Censura", da TV Brasil, ele contou como iniciou "tarde" na carreira de escritor, após começar a trabalhar na redação do jornal "Zero Hora", na década de 1960. 


"Até os 30 anos eu não tinha a menor ideia de ser escritor, muito menos jornalista. Eu fiz de tudo, e nada deu certo. Aí quando eu comecei a trabalhar em jornal - e naquela época não precisava de diploma de jornalista - foi quando eu descobri a minha vocação. Sempre li muito, mas nunca tinha escrito nada. Então, eu sou um caso meio atípico", disse.


Com fama de ser um homem calado, Verissimo costumava dizer que não era ele que falava pouco, "os outros é que falam muito". Em 2017, quando tinha chegado aos 80 anos, ele disse em entrevista ao programa "Conversa com Rosean Kennedy", da TV Brasil, como gostaria de ser lembrado.


"Gostaria de ser lembrado pelo que eu fiz, pela minha obra, se é que posso chamar de obra, mas pelos meus livros. E, talvez, pelo solo de um saxofone, um blues de saxofone bem acabado", contou. 


Na mesma entrevista ele disse que tinha uma fantasia de ser conhecido e viver apenas da música, que era sua paixão. E aconselhou que a vida não deve ser levada tão a sério.


"No fim, pensando bem, a vida é uma grande piada. Acontece tudo isso com a gente, e a gente morre... que piada, né? Que piada de mau gosto. Mas acho que temos que encarar isso com uma certa resignação, uma certa bonomia [bondade]". (Fontes: Agência Brasil e ABL)

A seguir, a íntegra da entrevista ao programa "Conversa com Rosean Kennedy", da TV Brasil:




terça-feira, 26 de agosto de 2025

Morre o cartunista Jaguar, fundador de "O Pasquim"

Foto: Carlos Chicarino/Estadão Conteúdo

O cartunista Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, mais conhecido como Jaguar, morreu neste domingo, 24/08/2025, no Rio de Janeiro, aos 93 anos. Ele estava internado no hospital Copa D’Or, na capital fluminense, por causa de uma pneumonia.


Nascido no Rio de Janeiro, Jaguar iniciou sua carreira na imprensa brasileira desenhando para a revista "Manchete" em 1952. O pseudônimo artístico foi sugestão do colega, também cartunista, Borjalo.


Ele também deixou seu nome na história do jornalismo brasileiro ao fundar, em 1969, o jornal satírico "O Pasquim", em plena ditadura militar, ao lado de outros cartunistas e jornalistas, como Tarso de Castro e Sérgio Cabral.


O impresso fazia grande oposição ao regime através de seus textos irreverentes e do trabalho dos cartunistas. Nesse período trabalhou com outras figuras ilustres como: Henfil, Millôr Fernandes, Ziraldo e Paulo Francis.


Em "O Pasquim", Jaguar cria o rato Sig, uma alegoria ao fundador da psicanálise, Sigmund Freud. O personagem aparece na capa e no começo das matérias, e é a mascote da publicação.


Além de Sig, Jaguar criou outros personagens, com destaque para Gastão, o vomitador; Boris, o homem tronco, e o cartum Chopnics.

Foto: ABI


Paralelamente ao trabalho de cartunista, ele trabalhou por 17 anos como escriturário no Banco do Brasil, emprego que abandonou em 1971.


Durante sua trajetória no desenho passou pela revista "Senhor", os diários "Jornal do Brasil", "Última Hora" e "O Estado de São Paulo".


Em 1999 fez uma nova incursão pelo jornalismo satírico, publicando com Ziraldo e outros colegas do Pasquim a revista "Bundas". Em 2000, lança o livro "Ipanema - Se Não Me Falha a Memória", obra de memórias sobre o bairro de Ipanema, focando nos "anos gloriosos" das décadas de 1960 e 1970. 


Já em 2001 publicou o livro “Confesso que Bebi, Memórias de um Amnésico Alcoólico”, que conta suas experiências pessoais em bares cariocas, sua relação com a boemia e a culinária local.


Jaguar teve dois filhos, a escritora Flávia Savary e Pedro Jaguaribe, que faleceu em 1999; ambos com a poeta Olga Savary. Atualmente era casado com a médica Célia Regina Pierantoni. (Da Rádio Agência/EBC)